Lá estava ela, deitada na cama da irmã, chorosa e com ódio da vida. Chorava um triste acontecimento que seu filho lhe contava pelo telefone. O tal acontecimento era sobre seu marido, que aproveitando de uma separação breve e acometido por um ciúme infernal de outro homem, colocou uma sirigaita dentro de casa. O filho, sofrendo os males de ter uma madrasta, não se conformava com algo tão turbulento, e não acreditava que ele, sendo um príncipe quando ainda estava sob as asas da mamãe podia lavar a garagem e dormir no escritório com a presença dessa mulherzinha. Para piorar, a tal amante levara consigo dois filhos e eles estavam gozando de todos os direitos que ele tinha. Principalmente sobre os alimentos que continham na sempre cheia geladeira e dispensa.
- Mãe, essa mulher apareceu de onde? A senhora tem que voltar pra casa! Eu já não agüento mais essa vida de empregado. Se a senhora não voltar – berrava o filho em desespero, ao telefone - , vou enlouquecer!
Ele, o filho, sempre fora meio fresquinho. Criado entre duas irmãs mulheres, era homem-macho, mas tinha lá suas vontades por ser o caçula. De quando em quando, dava um chilique pra conseguir o que queria e agia habilmente com a dissimulação que adquiriu com os anos da infância. Mas agora, estava com toda a razão. Estava sendo humilhado na mão da tal bruxa-madrasta que o pai tinha colocado dentro de casa. Um absurdo!
A mãe e mulher, sofria bastante com a notícia. Mas se impunha como a vítima forte, daquelas que se voltam contra o malfeitor. As piores. Estava ela disposta a acabar com aquela palhaçada. Vivia resmungando pelos cantos o que faria se chegasse lá de supetão e encontrasse aquele cafajeste dando abrigo a outra mulher que não fosse ela. E ainda por cima sem o borogodó que ela tem. Uma branca! Vê se pode!
Saiu em disparada da casa da irmã e entrou num táxi.
- Moço, me leva para o aeroporto! – ia acabar com aquela “festinha” dentro de casa. – E anda que estou com pressa!
- Mas a senhora está sem bagagem! – perguntou o motorista interessado e fuxiqueiro.
- E daí?!
Ela ia descer o braço nos dois e ia armar a maior quizumba. Antes, ligou para o filho e avisou que estava indo embora e logo estaria em casa para tocar a estranha para a rua. Comprou uma passagem e embarcou duas horas depois. Somente com um livro que comprou no aeroporto. Desceu do táxi vindo do aeroporto de sua cidade, já na porta de casa com a cara amarrada. O carro que o filho tinha que lavar na sua ausência não estava mais... achou estranho e pediu a Deus que seus planos não fossem interrompidos. Entrou sorrateiramente na casa que ela arrumou e lavou tantas vezes. A casa que fora profanada por aquele imundo. O cachorro não estava no quintal, e portanto devia estar se acolhendo da chuva fraca que caía, na área. Ligou a luz da sala e foi direto ao quarto já com os ânimos exaltados, abriu a porta e nada. Com um pavor já lhe correndo nas espinhas, abriu o guarda-roupa para conferir se tudo ainda estava no seu devido lugar – Vai que esse louco me largou aqui, sem nada e sem ter como pagar as contas -, tudo estava como ela deixou antes. Então, se encaminhou para o escritório. Os dois deveriam estar se lambuzando naquele carpete escolhido com tanto carinho por ela, a raiva voltou a dar lugar ao desespero. Nada! “Meu Deus - pensou ela -, cadê os safados? Nem Astoufinho estou vendo.” Foi quando se encaminhou para a cozinha. Lá estavam os amigos e vizinhos de quem ela mais gostava. Todos eles. Até os amigos do boliche, lá se encontravam, as escuras para lhe desejar uma boa volta. O filho e o marido, riam em um canto no acender as luzes, gritando: "SURPRESAA!!!" Ela, comovida, nada disse e foi beijar os amores de sua vida.
Até hoje não se sabe se a tal amante existiu ou se era apenas uma armação para ela voltar ao lar. Se bem que para ela, não importava. As aparências iriam continuar, como sempre.