Os diversos ritmos musicais refletiam na parede do pequeno apartamento, vindo principalmente dos arredores dos arcos. A vida boemia do bairro era conhecida e não parava. Jonas agitava-se na cama para lá e cá com um sentimento de vazio. Levantou-se. Tomou um belo gole de suco e voltou para o quarto, onde pegou os cigarros. A mente repleta de agonia, com aquela mistura de ruídos ensurdecedores e incrivelmente variados. Se encaminhou pra sala com um cigarro na boca e um jeans no corpo. Pensou alguns instantes na vida com o cigarro nos dedos. Era tarde. Mas era na madrugada mesmo que ganhavam a vida. Coragem nunca faltou. Jonas achava mesmo que quem não tinha coragem de seguir com aquilo era ele. Mas algo lhe dizia que era preciso. Depois que fizera a primeira vez e com prazer, era um sinal que tudo havia de ser feito quantas vezes achasse necessário. Voltou ao quarto. Calçou um chinelo e vestiu uma camiseta branca.
A mulher assustada que estava, levantou com uma tremenda desconfiança e com o olhar de quem nada gostava.
- Escuta aqui seu Jonas, já é a quarta vez que eu lhe vejo saindo escondido na madrugada. Eu perguntei se você queria sair e o senhor me disse que não. Posso saber que raios vai fazer na rua às três da manhã?
Jonas deu uma belíssima desculpa esfarrapada para a esposa que lá ficou a engolir tal mentira. Nas ruas, o homem agoniado encontrou gente de tudo quanto é tipo. Vestidos de todas as maneiras. Os sons continuavam entupindo-lhe os ouvidos e a vida festeira da Lapa parecia não passar diante dos olhos. Acendeu mais um cigarro enquanto caminhava. Permanecia com a alma inóspita e inoperante. Expressão de quem não pensa em nada. Pensou na Lourdes. Mulher de garra e fibra. Agüentaram bastante em Del Castilho, vivendo de aluguel na casa de uma das tias da mulher, agora conseguiram comprar aquele apartamento.
Jonas parecia sufocado. Esbarrou em um molecote que estava drogado e procurou briga. Seguiu em frente sem olhar pra trás com os olhos quase vidrados. Lembrou das outras vezes que sentou na cama precisando fazer com que a vida parasse. Havia de parar. Cismou estar sendo seguido e a quase esquizofrenia lhe custou uma parada obrigatória para ser taxado se maconheiro pelos policiais que lhe revistaram pelo caminho. Sem flagrante e com documento, os canas deixaram Jonas seguir com um olhar perdido, mas que parecia determinado. Andou mais uns metros, alcançando um antigo galpão onde antes havia sido a casa de um bloco carnavalesco do bairro. Jonas havia feito um de seus poucos bons sambas para aquele bloco. Sentou-se na calçada do bloco. Do bolso tirou o maço de cigarros e um cantil que havia surrupiado do cunhado que morava no Recife. Deu um grande trago no cigarro e um gole na cachaça. Atentamente, esperou o que estava para acontecer. Os olhos fixos numa porta de ferro do outro lado da calçada. De lá, sai um rato que mais parece um gambá de tão enorme. E se aproxima de um objeto metálico no chão. Ouve-se um grunhido de dor. Lá estava o bicho asqueroso, preso e morto por sua gula infindável. Jonas aos risos, entornou mais cachaça pela goela.
Enquanto isso a mulher em casa reclamava ao telefone com uma amiga do curso de inglês:
- Não sei. Uma puta... provavelmente
14 comentários:
Bem bacana o texto cara!
E muito boa a alusão com a foto da Minnie, rs.
Só acho que uma mulher não ligaria às 3 da manhã pra uma simples "amiga do curso de inglês".
Se bem que essas coisas fazem parte.
Mas eu gostei bastante!
E ri junto com o cara na hora do rato, como já te disse, rs
Valeu!
Eu adorei o detalhe, 'amiga do curso de inglês'.
Sabe, já vi um desses ratos em uma cena parecida (na realidade). A pessoa chutou o rato e ele faleceu. E quando todos foram ver, vermes saíam de dentro da parte onde o rato havia levado o bico. Grotesco...
Então, não consegui rir pq toda vez que alguém menciona ratos eu lembro desse.
O que é a vida a não ser imagens construídas? hehhehehe
Seria essa Minnie um adesivo colado no livro de inglês? ;-)
Fala cara,
Esse seu conto está ótimo! A todo momento parece q vai se encaminhar para um lado, mas de repente, toma outro rumo. Muito bom mesmo! Gostei também das descrições me prenderam a todo momento e estão rápidas. Você está se tornando um escritor afiado!
Achei curioso o que estes dois leitores comentaram: parece que o rato chamou mais atenção que o próprio Jonas. Interessante!
Quanto à imagem da Minnie talvez seja uma nova Monalisa, com um novo enigma a propor. Ou talvez o rato do final, seja afinal uma ratazana? hahaha!
abrçs!
olha,
ainda acho q é uma puta!!!
rs rs
pensamento feminino clássico, não?!
você ainda vai escrever um conto com um charuto apagando
os comentários do Matheus são os melhores rssss
Cara talvez eu esperasse mais do final, mas talvez também o propósito não fora esse.
Enfim, o detalhe q mais me chamou a atenção foi descrição bem feita do personagem Jonas e do ambiente que o cerca. E como conheço bem a Lapa, deu pra dar vivacidade em meus pensamentos.
Parabens!
Sempre impressionando os amigos...
;)
beijos... e vê se posta mais, hein... hahaha.
Eu acho que conheço esse rato-gamba do conto.
Pq é sempre mais fácil achar que tem uma outra mulher por trás?!
Num sei...rs!
Procurando o simples vc encontrou o caminho!!
Mas não gostei!!
Só pq vc sempre implica comigo...
[não dá pra mandar o emoticon aqui =/]
Beeijos*
3 cousas que eu achei mais bacana que tudo: a menção de Lapa, Del Castilho e a parnóia feminina (hahahaha).
Maravilhoso! Uma linguagem detalhada-rápida. Frases curtas. Muito bom! Adorei!
Texto muito bom, história bem conexa e criativa. Só ainda não entendi ao certo afigurada Minnie, acho que entendo depois haha.
Adorooo textos com detalhesss..
Vi toda a cena..rs
Mas tbm não entendi a Minnie..rs
Beijos!
Obrigada pelo comentário.
Eu não suporto a Minnie. Huhauhauhauhuaha. Mais uma vez, adorei o texto! =)
E sim, uma mulher ligaria pra qualquer pessoa q pudesse manter um diálogo e atendê-la às 3 da manhã.
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