Seu Romão, preso político, velho sonhador e ranzinza estava escutando um disco do Lupicínio deitado no sofá. A preguiça o estava dominando naquele momento tênue entre um sono e um gostoso som de pássaros. Na varanda o coleiro cantava alto. O mundo andava devagar.
Ana Rosa desembarcava na Grande Curitiba, com uma mala espalhafatosa e os dedos gélidos. Implorou, radiante, por um pouco mais de calor no sangue já em cubos cristalinos de gelo.
Foi até o orelhão e discou o número da casa do pai, esperando um pouco daquela paz que a fez voltar à cidade modelo.
Explodiu na sala do seu Romão o “trim” do telefone antigo. Ele, com uma caneca de leite quente nas mãos atendeu com vontade de desatender imediatamente. Ela, Ana Rosa, foi falando primeiro para não perder tempo
- Pai!
Seu Romão, também para não perder tempo disparou:
- Não tenho filha com essa voz de puta paulistana!
Ela, confusa, foi conferir na agendinha de papel o número da casa de seu velho pai.