sábado, 10 de janeiro de 2009

Uma puta... provavelmente



Os diversos ritmos musicais refletiam na parede do pequeno apartamento, vindo principalmente dos arredores dos arcos. A vida boemia do bairro era conhecida e não parava. Jonas agitava-se na cama para lá e cá com um sentimento de vazio. Levantou-se. Tomou um belo gole de suco e voltou para o quarto, onde pegou os cigarros. A mente repleta de agonia, com aquela mistura de ruídos ensurdecedores e incrivelmente variados. Se encaminhou pra sala com um cigarro na boca e um jeans no corpo. Pensou alguns instantes na vida com o cigarro nos dedos. Era tarde. Mas era na madrugada mesmo que ganhavam a vida. Coragem nunca faltou. Jonas achava mesmo que quem não tinha coragem de seguir com aquilo era ele. Mas algo lhe dizia que era preciso. Depois que fizera a primeira vez e com prazer, era um sinal que tudo havia de ser feito quantas vezes achasse necessário. Voltou ao quarto. Calçou um chinelo e vestiu uma camiseta branca.
A mulher assustada que estava, levantou com uma tremenda desconfiança e com o olhar de quem nada gostava.

- Escuta aqui seu Jonas, já é a quarta vez que eu lhe vejo saindo escondido na madrugada. Eu perguntei se você queria sair e o senhor me disse que não. Posso saber que raios vai fazer na rua às três da manhã?

Jonas deu uma belíssima desculpa esfarrapada para a esposa que lá ficou a engolir tal mentira. Nas ruas, o homem agoniado encontrou gente de tudo quanto é tipo. Vestidos de todas as maneiras. Os sons continuavam entupindo-lhe os ouvidos e a vida festeira da Lapa parecia não passar diante dos olhos. Acendeu mais um cigarro enquanto caminhava. Permanecia com a alma inóspita e inoperante. Expressão de quem não pensa em nada. Pensou na Lourdes. Mulher de garra e fibra. Agüentaram bastante em Del Castilho, vivendo de aluguel na casa de uma das tias da mulher, agora conseguiram comprar aquele apartamento.
Jonas parecia sufocado. Esbarrou em um molecote que estava drogado e procurou briga. Seguiu em frente sem olhar pra trás com os olhos quase vidrados. Lembrou das outras vezes que sentou na cama precisando fazer com que a vida parasse. Havia de parar. Cismou estar sendo seguido e a quase esquizofrenia lhe custou uma parada obrigatória para ser taxado se maconheiro pelos policiais que lhe revistaram pelo caminho. Sem flagrante e com documento, os canas deixaram Jonas seguir com um olhar perdido, mas que parecia determinado. Andou mais uns metros, alcançando um antigo galpão onde antes havia sido a casa de um bloco carnavalesco do bairro. Jonas havia feito um de seus poucos bons sambas para aquele bloco. Sentou-se na calçada do bloco. Do bolso tirou o maço de cigarros e um cantil que havia surrupiado do cunhado que morava no Recife. Deu um grande trago no cigarro e um gole na cachaça. Atentamente, esperou o que estava para acontecer. Os olhos fixos numa porta de ferro do outro lado da calçada. De lá, sai um rato que mais parece um gambá de tão enorme. E se aproxima de um objeto metálico no chão. Ouve-se um grunhido de dor. Lá estava o bicho asqueroso, preso e morto por sua gula infindável. Jonas aos risos, entornou mais cachaça pela goela.
Enquanto isso a mulher em casa reclamava ao telefone com uma amiga do curso de inglês:

- Não sei. Uma puta... provavelmente