Outro dia eu conversava com uma tia minha, tia Rosana, sobre o caos que se estabelece no Rio. Conversa vai e vem, ela faz comentário sobre os macetes de ladrões e assaltantes no centro da cidade. A maioria dos integrantes da minha família, fixa residência em Nova Iguaçu(inclusive eu!). Por sinal, nem bairro bem tranquilo. Principalmente depois que se estabeleceu uma "semi-milícia" protegendo o comércio(que são biroscas, o que tem em maior quantidade nesse lugarejo), o lugar a noite parece ser fantasma. Porém, a grande maioria dos que integram a minha estirpe, sempre trabalharam no centro da cidade do Rio de Janeiro- que o pessoal daqui chama de "centro do Rio. E nós, que somos de cariocas de nascimento e alma chamamos simplesmente de centro da cidade.
Rebobinando a fita do meu texto, minha tia me disse ter alguns macetes para andar no centro da cidade correndo o menor risco possível de ser assaltado, furtado ou roubado. Altamente observadora, tia Rosana tem na sua malícia uma companheira de longa data. Mesmo assim, duvidei de alguns desses macetes descritos pela minha tia, que sustentava um ar policial ao falar sobre o assunto. Duvidei inicialmente, mas depois, sem perceber, comecei a reparar tudo numa neorose absurda. Como um detector de bandidos, encarava as pessoas com uma estampa facial de quem sabe o que elas faziam ou planejavam fazer. Hora? Eu nunca tinha como informar. Completar passagem para moradores carentes e de bairros distantes? Nunca! Como posso tirar dinheiro no meio da rua? E se ele fosse um golpista? Não mesmo! O fato é que esse fato me chocou como ser humano. É terrível saber que tenho que usar dessas artimanhas para viver na minha cidade. "Não atender o celular na rua, não tirar dinheiro do bolso, carteira, bolsa etc., em lugares onde há probabilidade de te levarem tudo, na marra ou sem que você veja"... Uma séria de recomendações que violentam o conceito de liberdade.
Um dia, surtei! Sem me importar com mais nada, atendi o celular na rua, comprei chocolate no camelô, dei dinheiro ao gurizinho pobre, ouvi música numa loja, andei distraído... tirei fotos de prédios... ah, fui assaltado! No dia seguinte, entendi que essa nossa malandragem, apesar de ferir-nos mais e mais com essa prisão mental, esse terror psicológico, é muito necessário para nossa sobrevivência. Infelizmente, voltei a investigar no olhar os cidadãos cariocas.